Ainda

    Ainda morres, João?

    Ainda vives, Maria?

    Ainda nasces, José?

    Ainda comes, Francisco?

    Ainda dormes, Helena?

    Ainda cospes, Francisca?

    Ainda respiras, Adréia?

    Ainda choras, Tereza?

    Ainda amas, Ana?

    Ainda ouves, Olávo?

    Ainda queres, Ângela?

    Ainda sentes, Joana?

    Ainda sim?

    Ainda não?

    Ainda?

Uma outra maçã

    Nada como uma outra maçã

    de plástico

    derretida pelas altas temperaturas

    e corroida por alguém de pés descalços.

    Uma outra maçã sem veneno nem serpente

    com preço estabelecido e embrulho transparente.

    Outra maçã não plantada,

    mas produzida para enfeite de mesa vazia.

    Uma outra maçã corrompe a manhã

    e plasticiza o sabor do novo dia.

O próximo

"é preciso ter mãos pálidas

 e anunciar o FIM DO MUNDO"

Carlos Drummond de Andrade.

    Não espere o fim do mundo

    nem que as estrelas caiam.

    O próximo segundo pode ser tarde.

    Não mude de assunto

    nem amanhã nem depois.

    É só o hoje que existe.

    E você está aqui.

    Você que é dois, você que é impar.

    Você pode anunciar o FIM DO MUNDO.

Futuro

            Ele não dizia nada, mas me olhava.

            Ele dizia tudo, mas me olhava.