Um vulto

03/01/2012 16:34

Um Vulto

 

    Um vulto. Noite escura. Duas da madrugada, ela e mais ninguém -ela e o vulto. Passaram-se trinta segundos, uma eternidade; tomou coragem, saiu do quarto e foi à sala: o telefone; tirou-o do gancho, digitou os três números. Nada:  ocupado. Duas horas e sete minutos, tentou novamente. Inútil.

    Tinha uma arma, pensou em usá-la. Não. Não podia: era ilegal. Mas sua vida estava em risco: sim, podia. Na gaveta do criado-mudo, a pegou, arma em punho; tremia muito. O vulto continuava rondando a casa. Fez o gesto automático de quem ia ligar à luz, desistiu a tempo. Respirou fundo. Arma carregada, dedo no gatilho.

    Vulto passando pela janela: atirou. Fez besteira. O vulto era outro: um gato. Agora mais vulnerável, calafrios. Deixou a arma cair, impacto com o chão. Novo disparo: sua arma. Assustou-se. Breve pausa. Recuperou-se. Chutou a arma pra longe. Correu e se escondeu debaixo da cama. Não pensou.

    O vulto invadiu a casa. Silêncio. Ele caminhou na direção do quarto; no meio do percurso, encontrou um 38. Duas balas na agulha. Perfeito. Pegou-a como se fosse um profissional -com luvas. No quarto, abriu o guarda-roupa. Barulho. Ela, assustada, tentou fugir. Ao abrir a porta, dois disparos: foi atingida no tórax e na nuca. Sem roubar nem mexer em nada, o vultou saiu; desapareceu na escuridão.