Tédio?

17/04/2012 14:52

Tédio?

 

 

O tédio aumenta com o tempo, sabe? O homem nem desconfia, a mulher sabe, mas finge desinteresse. O tédio vai nos envolvendo, como num abraço de urso. Não é o diabo não, deus o livre! É quase um beijo na eternidade. Definindo-o a gente até o perde de vista. Coisa engraçada – e entediante. Tédio? É aquele assopro colossal após longa inspiração, conheces? Mas, amigo, cá entre nós, como vencer esse inimigo que nos oferece amizade?

É assunto mais que entediante, não? Por que perguntar se podemos dizer “Que tédio!”? Por que trabalhar se podemos balbuciar “Que tédio!”? Por que dormir, acordar, existir se podemos gritar “Que tédio!”? Por que falar, flagrar, cantar se podemos simplesmente – genialmente - soltar um “Que tédio!”? Por que escrever, discutir, admirar se podemos pintar no muro da vida a sublime frase “Que tédio!”? O tédio não passa de uma síntese dos porquês.

A amiga não crê, o rapaz sorri sarcasticamente, o menino comendo. Todos fazendo de conta que desconhecem o tédio. Porque no Princípio era o tédio e dele derivou o mundo. Porque o tédio é o único milagre a altura das mãos. O pensamento é a semente do tédio, do tédio advém o progresso. Tudo é tédio, tudo é vida, tudo é acaso, o tédio: uma boa desculpa para se trancar nos limites do acaso.

Será que podemos comemorar? O tédio existe! O tédio é uma etapa para se chegar a uma tal liberdade.

 

 

Assinado por: Heitor Bállis Lênihon