Professor-João-Faz-Nada, parte 2: A fuga.

21/11/2011 16:52

 

           Professor João-Faz-Nada, parte 2: A Fuga

 

             Aula do professor J. F. N.. Ótima oportunidade para dar no pé. Trinta verbos para conjugar no presente do indicativo. Um saco. Terminara de ler meu livro. Nada a fazer – tédio, tédio, tédio. A última aula, sem duvida, foi arquitetada para não ser assistida. O profissional na Arte de Pular o Muro entraria em ação: aguardava ansioso a primeira chance para “pintar a obra”.

            A colega lá da frente fez a pergunta: “Não vai dar aula?”. Ele tremeu. Coçou a cabeça – confuso. Faltava giz, de certo, lembrou-se. “Vou à sala dos professores”, balbuciou finalmente. Era o sinal: matar ou não matar, eis a questão – citando eu mesmo. Aguardei, como manda o manual, trinta segundos. Antes, eu folheara o livro Crônicas para se ler na escola, do Luís Fernando Veríssimo. Guardei-o.

            Vinte e oito, vinte e nove, trinta. Pronto! Mochila nas costas. Depois do muro, menos tédio. O vento batendo no rosto, o cheiro de bife. Alguém me perguntou: “Já vai?”, sim, já ia – e tarde. “Tchau”, retrucou. Balancei a cabeça, em resposta.

            Ao sair da sala, olhei, desrespeitando o manual, como se fosse atravessar a rua, para um lado e para o outro – de um lado, o muro, do outro, o pátio. Ninguém. Quer dizer, o guarda passeava por ali. Nada importante. Sem problemas, num salto de dar inveja à atleta olímpico, passei pelo “obstáculo de concreto”. Livrei-me de uma das alças da mochila – porque só coloco as duas quando mato aula – e segui para minha casa. Chegando ao lar, tomei um suco, comi pão doce. Arrotei ao lembrar mais essa obra de Arte.