Precipitação dos Atos

22/09/2011 15:05

 

Santinha era a garota mais tonta da turma; tão lenta que a apelidaram de Preguiça. E o apelido pegou, era Preguiça para lá, Preguiça para cá, Preguiça faça isso, Preguiça faça aquilo. Com o tempo, ninguém mais lembrava o nome dela, era Preguiça e pronto.

A turma resolveu mostrar a cidade para um amigo que viera passar o final de semana com eles, instalando-se na casa da Preguiça. Pegaram o carro e deram inicio a excursão. Foram mostrando ao amigo todas as particularidades do município: praças, parque de diversões, casa de jogos, bares, boates e monumentos históricos.

Ao voltarem para casa, estavam sonolentos. Pararam no semáforo e pediram que Preguiça vigiasse a movimentação dos carros atrás do que estavam. Preguiça olhou pelo retrovisor.

− Tem um ali sim.

E a turma ficou esperando a Preguiça dar o sinal verde para que eles prosseguissem, até que o dono do carro, parado atrás deles, buzinou e pediu que se apressassem.

− Era pra olhar pra trás e não pelo retrovisor Preguiça! Se fosse pra isso eu mesmo olhava.

Alguns metros depois, novamente pararam no sinal. Uma carreta estacionada em local proibido reduzia o campo de visão do motorista que teve de recorrer a Preguiça.

− Preguiça, vê ai se não tá vindo nenhum carro. Mas preste atenção, hein!

− Carro? Não vem nenhum não –Afirmou Preguiça.

− Tem certeza?

− Absoluta!

Mesmo com a Preguiça afirmando com tanta certeza, o motorista resolveu esperar. Um microônibus passou em questão de segundos.

− Você viu aonde ia nos enfiar Preguiça? Presta atenção pô! Tá querendo nos matar?

− Desculpa, eu não vi.

− “Desculpa”, é toda hora isso!

O amigo intrometeu-se na conversa:

− Ei, ei, calma ai, dá uma chance pra guria cara.

− Tá, tá, mas é a última vez. Ouviu Preguiça? Agora vê ai se tá vindo algum carro.

− Espera ai ...

− Não, carro não...

− Pode acelerar – ordenou o amigo.

−... Mas tem um caminhão vindo –completou Preguiça.

O motorista freou bruscamente; e por pouco não colidiu com o caminhão; saiu do carro; abriu a porta traseira e pediu que Preguiça saísse.

− Sai, anda. Você tá louca? Queria nos matar é? Quase conseguiu! Também, como confiar numa, numa... Preguiça!

− Meu nome é Santinha tá!

− Que se dane o seu nome! Você quase nos matou. Porque você não some daqui? Sei lá, vá pra Amazônia ou pro Pantanal, ou noutro lugar onde te aceitem.

− Ah, é assim?

Santinha estava nervosa. E mulher nervosa com esse nome não é flor que se cheire.

− Sai todo mundo do carro, sai, anda, anda. Saiam do MEU carro –gritou Santinha.

Saíram todos. Santinha entra no carro e sai em disparada.

− Tá vendo? E agora sabichão? Não sabe conversar com a guria –diz o amigo visitante, em tom de desabafo.

− Tranqüilo. Fazer o que né?

− É, fazer o que agora? – replica o amigo.

− Vamos admirar a paisagem –argumenta João, o motorista.

− Seu... seu...

            E todos voltaram para casa, sãos e salvos.