Poesia

03/01/2012 16:32

Poesia

 

            O tempo fechara de súbito. Todos desprotegidos. Dezesseis horas; nada a mais, nada a menos. Ao atravessar a rua, a tempestade desabou. Não. Os raios apareciam distantes. Onde eu estava, caia uma chuva tímida, mas logo se fez avassaladora. Por enquanto, entenda, garoava.

            Pessoas corriam. Passos mais que apressados. Protegiam-se como podiam. Invadiam mercados em busca de teto. O céu desmoronava. A rua deserta. Árvores eram retorcidas pelo vento. O vendaval jogou longe a placa de publicidade. Ao contato dos pingos d’ água com o telhado de zinco, cachorros latiam. Cena perfeita: uma trama policial ou um casal romântico – ou ambos. Mas nada. Tempestade interior.

            Só eu. A rua. Agora nós. Unidos. O vento surrava meu rosto. A água penetrava, roupas umedecidas. Gritei. Ninguém. Ninguém ouviu. Aproximava-me da praça. Sentei no banco.  Galhos caíram ao meu lado. Percebi o perigo. Levantei-me. Comecei a andar sem destino. Minhas pernas vacilavam. O céu clareou – raios. Mais uma rajada de vento, forte. A árvore caíra sobre o banco em que eu sentara.

            Tremi. Parei no meio da rua. Novo grito. Ecoou. Assoviei. Agora sim: sentia frio. Um frio bom de sentir. Ar puro. A sensação de, pela primeira vez, liberdade. Palavras estranhas saíam da minha boca. Solitário. Não era eu. O mundo a minha volta. Por impulso, outro em mim. Lágrimas contornaram minha face e se misturaram as gotas d’ água que escorriam pelo meu rosto. Tentei fugir. Mas de quem? Do nada.

            “Abrace a árvore”, ouvi. Nada enxerguei. Mas qual? Aquela. Recuei. Procurei me encontrar. Pisei em falso. Fui impedido de caminhar. Chorei mais. Olhei para além. O Sol estava voltando. Flutuei. Diminuiu o vento. Passou a chuva. O arco-íris. Eu e a cidade. Solidão.