Poemas

22/02/2012 16:18

 

Poema Nulo

 

        Ninguém, alguém, ninguém, alguém.

        Eu, quem? Eu, como? Eu, onde?

        Nenhum verso à liberdade - nenhum!

        Meus dias com insetos no estômago:

        véu, breu, véu, breu, véu, breu.

        e um mais, e um porém, e um ainda.

        Que lindo par de mentiras ao fim do meu nome!

        Plurais, quais? Restam-me a sombra, a dúvida.

 

Cela

 

        Fizemos da vida prisão vermelha e branca

        tão vermelha que extinguiu o espanto,

        mais branca nos multiplos conformismos.

        Nos trancamos num cofre à espera de alguém, certa chave.

        Comparações não faltam entre o céu e a terra

        e mais um e mais outro fim do mundo.

        Tantos anúncios rasgam minha inutilidade!

        Não há mais o que cavar, procurar ou defender

        o jeito é pedir consolo ao vento.

        Olha que o verso acaba, a vida, o tempo.

        E toda a espécie de fingimento é um sono, uma fuga sobre o mar.

 

Salina

 

        A lágrima borrou o primeiro ponto da poesia,

        resta apenas uma mancha negra, salgada,

        contudo ninguém pede nada, o sal basta.

        Basta para completar o sentido do verso interrompido,

        para nutrir a água no refrescar as plantas

        ora sim, ora não, rodeada por sentimento.

        No momento a lágrima secou, ficou o sal mais poético,

        só o sal e o mal.        

      Já sabes, restou o sal com o verso em mancha.

        Fez-me linha no horizonte e a montanha

        recebeu todas as lágrimas cantadas, escritas,

        montanha salgada, deformada pelo vento salgado.

 

Permissão para um poema

 

        Repare só nas tardes da vida,

        o pó se esconde sob a roupa, tantos ferimentos!

        Não compreendes a dor, má atuação

        perante a existência.

        Ninguém, alguém, ninguém, alguém.

        Sem cócegas na liberdade, é noite

        e o globo corre descalço, à luz do medo.

        O menino beija a testa do mundo,

        cava buraco pra fugir do céu que cai.

        Só o vento sabe que tudo nasce antes da hora.