Perdidos e Desencontrados

12/09/2011 14:38

 

            A família se arruma naquele forno doméstico ao estourar da noite. A mãe, chefe de família, aparentando trinta e cinco anos e seus três bacorinhos, com idades aproximadas de 10, 12, 14, todos saíram rumo a casa de um conhecido para conversar desordenadamente e se fartar com muita carne vermelha, bastante conveniente em tais ocasiões.

            O menino mais velho, munido de uma arma, ou melhor, de uma bicicleta (que não deixa de ser uma arma quando mal usada) dispara na frente. A mãe grita pedindo que a espere, mas o menino não lhe dá ouvidos, dobra a esquina, uma duas, três e se perde. A mãe segue com os outros meninos e pouco depois chega numa tapera caindo aos pedaços, recebida com pompas de dama, onde procura visualizar seu moleque.

            O garoto, perdido da mãe e não encontrando o destino, volta para casa e fica esperando que alguém venha buscá-lo. Passado hora e meia, desliga a luz e dorme. A mãe, em desespero, sem condições de imaginar que seu primogênito teria voltado para o lar.

            Comunicando a policia, a caça ao filho começou, a tia, munida de uma motoneta ilegal, sai a procurar pelas praças e becos da cidade, a policia pega a fotografia do desaparecido e finge interessar-se pelo caso. A mãe fuma um cigarro atrás do outro e depois acompanha um representante do conselho tutelar até um centro de processamento de dados para dar inicio a sei-lá-o-quê.

            Já era tarde da noite quando a tia-detetive lembrou de procurar o projeto de gente em sua própria casa (foi mais coincidência que inteligência, leia, já cansada a tia voltou para casa e sigamos). Achou-o. De bruços no sofá o menino dormia, sacudido pela tia acordou confuso e foi perguntando o porquê daquela agitação toda.

            A tia pegou-o pela orelha, enfiou-lhe uma espécie de capacete medieval e levou-o até a irmã. Ainda confuso e sonolento, o coitado chegou chorando e abraçou a mãe.

            O moleque passou a madrugada toda narrando sua versão do acontecido, jurando não ter se perdido, mas se desencontrado. A mãe, por sua vez, acaba com o maço de cigarros enquanto explicava aos gritos a sua versão. Eu ouvi tudo e transformei em crônica.