Pelos Bares da Cidade

12/09/2011 15:06

          

              Sempre se encontra no bar um bêbado metido a cronista. E tem também aquele sujeito que vai ao bar só para ficar olhando o movimento. Quando um e outro se encontram, então, é crônica na certa.

                Depois de flagrar a mulher com outro na cama, José Antônio iniciara uma excursão pelos bares da cidade. Num desses bares sentou-se perto do Martins, rapaz de meia idade, que estava ali distraído, esperando a noite acabar.

            − Garçom! Trás uma cerveja aqui pra mim e pro meu amigo também.

            −Quem? Eu? Não, não, não precisa, eu não bebo, e também não te conheço, afinal, o que você tá fazendo aqui?

            − Meu amigo, fui chifrado.

            − A vá beber pra lá, você tá babando, que isso meu senhor!? Deu pra cuspir na cara dos outros?

                O garçom chega.

            − As cervejas – Diz ele.

            − Obrigado. Me acompanha?

            − Não. Obrigado.

            − Minha mulher me chifrou. Me chifrou! E o pior, foi com meu melhor amigo. Logo ela, a quem dediquei toda uma vida, dei amor e carinho, me sacrifiquei, fiz tudo, tudo: o que eu podia e o que eu não podia, pra quê? Pra essa cadela me botar um par de chifres!

            − Meu senhor, vá pra casa, vá descansar.

            − Não vô e não vô, e cala a boca que agora eu vou terminar de contar –longa pausa- Garçom, trás outra cerveja!

            − A cerveja – E coloca-a na mesa.

            − Eu trabalho o dia todo e chego em casa, cadê? Cadê minha mulher? E quem sabe? Ninguém sabe onde está aquela vaca velha. E eu pego o carro e saio pra procurar. E toca o celular. Eu atendo e me chamam de chifrudo. Chifrudo é a mãe eu digo. E ele fala: “na 14 com a 15, 301. Sua mulher está na cama.” E eu vou pra lá. Tá escutando?

            − Tô sim, tô, continua, continua.

            − E eu chego lá, entro no prédio e pego o elevador, os seguranças vão atrás, e eu gritando: eu mato o filho da puta, eu mato essa cadela também, eu mato, eu juro que eu mato.

            − E ai?

            − Ai eu arrombo a porta do 301 e vejo o resto de uísque na garrafa e dois copos no barzinho, o jantar ainda posto, e ouço a cama rangendo –longa pausa.

            − Vai, continua!

            − Daí eu entro no quarto, e lá está minha mulher, nua, ela pega e se cobre com o lençol.

            − E o resto, vai, conta! –Diz Martins apreensivo.

            − Daí eu grito: Meu melhor amigo!

            − E ela?

            − Ela fala: “Mas você nem conhece o Oswaldo!”

            − E você conhecia? Diz, diz, ei, ei, ei...

                E o bêbado acaba dormindo.