Ou isto ou aquilo - Cecília Meirelles

28/10/2011 09:16

Postagem útil àqueles que prestarão vestibular na UFGD 2012.

 

Ao longo do mês, estarei postando os melhores conteúdos disponíveis para que os leitores possam conhecer o livro "OU ISTO OU AQUILO", literatura infantil, de Cecília Meirelles, mais um talento genuinamente brasileiro. A postagem será constantemente revisada e ampliada para que o leitor possa melhor compreender o livro e os poemas nele contidos. Fica o abraço.

 

    A obra "Ou Isto ou Aquilo", foi publicada pela primeira vez no ano de 1964, e se tornou um grande sucesso de nossa literatura. Considerado por muitos "um dos mais belos clássicos da literatura brasileira", Ou Isto ou Aquilo tem como tema as fantasias e sonhos da infância - a casa da avó, os jogos e os brinquedos, os animais e as flores, tudo se enche de vida nos poemas de Cecília Meirelles. Ou Isto ou Aquilo é um dos mais belos e importantes livros de poesia para criança,nascida da extrema sensibilidade da poeta. Este livro vem encantando sucessivas gerações e agrada não só às crianças,mas também aos jovens e adulto.

 

O trecho a seguir foi retirado da "Orelha" do livro"

 

    "Ao ler este livro,você vai sentir que os poemas falam,com um jeito muito especial,de coisas que você já viu,já pensou,já sentiu,já experimentou,ou principalmente,já imaginou.As palavras de Cecília Meireles parecem mágicas,cheias de música e idéias.O que torna o poeta diferente das outras

pessoas é uma sensibilidade muito grande e um talento especial para lidar com as palavras:elas ficam mais emocionantes e agradáveis de se ouvir.Na verdade,o poeta brinca com as palavras,escolhendo-as como se perguntasse a si mesmo,a todo momento:"Esta ou aquela?"O poeta as escolhe até conseguir escrever um texto diferente,bonito,interessante. Um bom exemplo do que é a arte da poesia está logo no primeiro poema deste livro,"Colar de

Carolina".Além de procurar rimas --como em menina e Carolina --,repare como Cecília Meireles escolheu palavras que não rimam,mas combinam muito bem.É o caso,por exemplo,de coral e colar que são formadas pelas mesmas letras.Em todo o poema parece que ela faz mágicas,principalmente com as consoantes,C,L,N,R,as mesmas encontradas nas palavras do título,colar e Carolina. Juntar palavras que as pessoas normalmente não juntam para formar uma idéia --como "prece de pelúcia"--também faz parte da arte da poesia.Mas para o poeta,não basta apenas saber escolher bem as palavras:é preciso usá-las para comunicar alguma coisa,passar uma mensagem.

    "Quando eu ainda não sabia ler --conta Cecília Meireles --,brincava com livros e imaginava-os cheios de vozes,contando o mundo."Como seus pais morreram muito cedo,Cecília foi criada pela avó,D.Jacinta,e pela Babá,Pedrinha.Eram elas que contavam histórias para a menina:a avó falava de

fatos e lendas da terra de seus antepassados --o arquipélago dos Açores --,e Pedrinha encantava a menina representando personagens,dançando e cantando,enquanto falava do Saci Pererê,de Mula- sem-cabeça e outras figuras do nosso folclore. O amor de Cecília pela música fez com que ela estudasse conto,violão e violino.E,por gostar tanto de livros,acabou tornando-se uma professora dedicada às crianças,que ela amou muito especialmente.

E tudo o que ela escreveu é tão bom que vem passando de geração para geração,e ficamos na dúvida sobre o que é mais bonito:Será isto ou será aquilo?"

 

Introdução ao livro "Ou isto ou Aquilo" (trechos retirados do livro)

 

"Você que vai ler este livro,não sei que idade terá.Não posso prever.Seja qual for,você terá uma surpresa,porque este é um livro mágico.Gostaria que você imaginasse a menina Cecília,sem pai nem mãe,apenas com sua avó Jacinta Garcia Benevides,debruçada sobre um tapete,descobrindo o mundo. Que tapete seria esse?Certamente parecido com esses que aparecem nas histórias orientais,com pássaros e flores,e muitos caminhos retorcidos onde ela imaginava o labirinto do sonho.As Solidão de menina,e da atenção sobre as coisas que passam,ou pelas quais passamos,se nutriu a poeta Cecília Meireles,que depois foi mãe,avó e mestra.Todas estas experiências estão neste livro,que é como aquele tapete povoado de mistérios.Cecília entendia as crianças.Transitou com leveza entre os netos que foram tão simples e curiosos como vocês.Foi colhendo uma coisa ali,outra acolá,um cachimbo

dourado de cabelo,uma birra,até um pensamento triste,e transformou tudo em matéria de vida.Mas esta Cecília tinha um amor muito especial pela palavra.E resolveu brincar,fazer ciranda com os sons, entrelaçar os fatos com rimas ingênuas,musicar o pensamento.Leia em voz alta,sinta que está

cantando.Estas coisas que hoje estão na boca de todo mundo,como medida de salvação,você pode encontrar neste livro.A paz,o amor,a solidariedade,até a solidão.Tudo é bom e bonito quando a gente acredita e pensa pra cima.Cecília também foi uma professora,mas sem regras fechadas.Ensinar como

abrir a cortina de um palco,onde a beleza paira na ponta do pé,e tudo tem razão de ser.Vocês não imaginam como era o sorriso de Cecília.Tinha uma doçura e uma tolerância que só a boa mestra pode ter.De tal forma que nem era preciso mostrar-se carrancuda ou severa.Ela sorria e a gente se

iluminava,como se houvesse um sino perdido anunciando boas ovas.Então a gente aprendia sem muito esforço,valorizando o silêncio,aprendendo a ver,a jogar com as palavras,a descobrir um sentido novo em cada imagem.É com esta artimanha da inteligência ela ensinou coisas incríveis para crianças,como você que possivelmente me lê,e para adultos que um dia caíram na malha dourada do seu fascínio.Estou falando de poesia,estudando com aplicação a forma correta de colocar este livro em suas mãos,e de poder ajudar na descoberta de qualquer mínimo detalhe,desses que o respeito e o amor

sempre conseguem revelar de forma nova.Tem um poema neste livro que me agrada sobremaneira.Ele se chama "O Último Andar",e Cecília diz:

"No último andar é mais bonito:

do último andar se vê o mar.

É lá que eu quero morar."

Hoje Cecília mora prazerosamente no último andar,e deixou em suas mãos a música perfeita de sua canção."

Walmir Ayalaa

 

Opinião a respeito do livro

 

"´Ou Isto ou Aquilo´, livro de poemas de Cecília Meireles brinca com as palavras e encanta as crianças com sua sensibilidade, impressões e cores. Há muitos anos, é recomendado para uso nas escolas. É considerado um dos mais belos e importantes livros de poemas para crianças."

 

Leia o poema Ou isto ou Aquilo, último poema da obra:

 

 

Ou se tem chuva e não se tem sol

ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,

ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,

quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa

estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,

ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo:ou isto ou aquilo ...

e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco,não sei se estudo,

se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda

qual é melhor:se é isto ou aquilo.

 

Análise : O poema infantil "Ou Isto ou Aquilo" organiza-se em torno de uma sucessão de oposições, sintaticamente apoiada na construção alternativa "ou...ou", na repetição e no jogo de palavras caracterizando o lúdico próprio da criança a que a educadora Cecília Meireles tão bem conheceu. (F)

 

 Ele pode servir como uma ferramenta para questionar os processos de escolha.Há dois pontos sobre ele :Em primeiro lugar, ele tematiza diversas escolhas cotidianas, tais como comprar um doce ou economizar dinheiro, colocar luva ou não. Essa tematica traz à tona a existência de uma necessidade constante de se escolher. Essa seria uma das poucas coisas que não escolhemos. Frente à vida, não há como não escolher nada. A não-escolha não é uma escolha possivel, está ai uma impedimento.Em segundo lugar, ele delineia um processo de escolha que, obrigatoriamente realiza um duplo papel: por um lado, abre possibilidades de escolha, e, por outro, as encerra. Ou melhor, enquanto o processo de escolha cria possibilidades, ele também faz com que o sujeito, ao escolher uma dessas possibilidades, escolha simultaneamente a negação de todas as outras. Escolher um "sim" para algo, é escolher um "não" para diversas outras opções. (F)