Noturnos
Noturnos
A noite chega
com gosto de tédio
com gosto de dia ruim.
A noite chega
sem mais nem menos
olha e não diz nada.
A noite chega
querendo arrancar do poeta
um verso por demais à toa.
A noite chega
e sem segredos
no sossego dorme.
A noite chega
e descansa
e arranha as costelas estrelares.
A noite chega
e geme.
A noite chega
vacila e inspira
em estado nenhum.
A noite chega
e bota transe
nas transas nobres
dos pobres transes.
A noite chega
e tosse.
O cigarro queima.
A noite chega
folgada
madruga.
A noite chega
rabisca qualquer coisa
e escreve e pinta.
A noite chega
e se oferece.
Ora.
A noite chega
e chega
e vai embora
−Hora de dormir.