Lucy

07/12/2011 08:21

LUCY

 

            Não. A vida não valia à pena. Desafiara a morte, ao se jogar do sexto andar. Com certeza, não valia. Ali estava, paraplégica. Lucy. Sem Sol: presa naquele quarto monocromático. Mas tinha amigos. Tinha. Afastaram-se quando souberam da noticia: do hospital, iria direto para o hospício. Louca. Louca. Suicida. Era isso: uma suicida.

            Bateu o desespero. A loucura. Nada lhe satisfazia. Mulher: insatisfeita por natureza. Sem amores. Sem valor. Só o presente. Nada bom. Como se a vida quisesse lhe proporcionar uma chance a mais, ficou, de súbito, feliz. Mais uma decepção. Fora por tempo ínfimo a tal felicidade. Acontece: acordamos, tomamos o último gole de vida, a morte chega e nos leva. Lucy queria ser levada, minutos depois, mudava de idéia.

            O médico a examinou. Má noticia: não havia volta. Deveria esperar, convenceu-se, a morte deitada na cama. “O hospício não!”, gritou. Logo o quarto foi invadido por três enfermeiros. Levaram-na. Mordidas. Um deles foi ferido. “Amarre-a”, acudiu o outro. Feito. Como um animal selvagem, Lucy foi transportada até o manicômio. Indiferente. Inanimada. Bicho arredio. Mulher derrotada.

            “É essa?”, perguntou o médico ao vê-la. Olhos avermelhados – de ambos. Desmaiou. Mentira. Fingiu. Arranhou o médico. Controlaram-na. Aplicou-se o sedativo. Dormiu. Acordou confusa. Sabia onde estava: no manicômio. Novo grito. Novos enfermeiros. Novo sedativo. Adormeceu.

            A vida não valia à pena. Madrugada. Primeiro dia naquele lugar. Ninguém por perto. Porta trancada. Só ela. Abriu os olhos. Respirou fundo. Solitária. Procurou qualquer coisa que pensara ter perdido, em vão. Arrumou o travesseiro. Acomodou-se. Estava pronta. Mãos entrelaçadas sobre o tórax. Ombros sob os cabelos. Um gole de vida. Morreu.