Crônica: que isso professor?

14/09/2011 17:02

Autor: David Maxsuel Lima

        

           No tempo em que a escola era caduca aprendi que a primeira crônica brasileira foi a carta onde Pero Vaz de Caminha anunciava a D. Manuel a “descoberta” do Brasil. Adquirido esse conhecimento e lendo a tal carta, achei que crônica era “um saco”.

            Dando uma de autodidata resolvi alfabetizar-me –ler livros –. Antes disso eu era o “verdadeiro analfabeto” definido pelo poeta Mario Quintana. Beirando os dezesseis anos, então, virei um leitor impulsivo (trocadilho: é preciso ler, não é preciso comer), lendo de cinco a seis livros mensais (Curiosidade: li meu primeiro livro, li mesmo, em três de setembro de 2010 das dezoitos às vinte e uma horas, era o Ubirajara, romance indianista de José de Alencar, cujo enredo não me lembro!).

            Me (não se inicia... com pronome oblíquo... regrinha besta meu Deus!) veio a cabeça, a alguns dias atrás, a idéia  de escrever crônicas, junto a ela veio a pergunta: “O que é crônica?”. Não havia outro jeito senão mergulhar nos livros para saber. Li crônicas de José Saramago (não gostei) e Fernando Veríssimo (ótimo!), inicialmente, e depois parti para Fernando Sabino (Lendo Sabino, deparei-me com a crônica “Melhor Amigo”, lembra? Devo ter lido ela na quarta série. Narra a história de um menino que vende seu cachorro, “seu melhor amigo”, por uns trocados. É do tempo em que o professor perguntava a moral da história!) e Drummond, prossigo lendo, pois há sempre o que se apreender.

            “E a Pergunta?”, pode indagar o leitor. “O que é crônica?”, retruco, “é”, volta a dizer-me. Pois cá está a resposta.

            Tenho por mim que a crônica é o gênero perfeito para o brasileiro: curta, por vezes com um toque de humor, acessível, já que é publicada inicialmente em jornais ou revistas (posteriormente reunidas e publicadas em livros, conforme preferência do autor) e feita a partir de flagrantes, momentos banais da vida (com isso, no entanto, não quero dizer que tudo pode vir a ser crônica. Para tudo têm limites!). O uso de termos coloquiais e a proximidade com o gênero jornalístico vem a ser outro atrativo desse tipo de texto.   

            A crônica é um texto leve e desinteressado, cotidiano, não abrindo espaço para o aprofundamento psicológico da personagem nem se prolongando em suas reflexões, com espaço e tempo limitados.

            O narrador tem a liberdade de dar um toque mais pessoal ao texto, além de nos fazer refletir criticamente determinados acontecimentos cotidianos. Ler uma crônica é ter a certeza de que nos divertiremos muito e, possivelmente, seremos levados a pensar sobre o assunto nela abordado.

            Tratando-se de crônica, o que vale é o instante, o tempo que passa leva consigo a veracidade das coisas, desfaz os bons pensamentos. O cotidiano nos oferece um momento de prece, e dessa prece nasce a crônica. Afinal, crônica é tirar da vida aquele segundo qualquer, percebê-lo, senti-lo e narrá-lo sob determinado ponto de vista.

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            Só para citar: Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, Rachel de Queiroz, Rubem Braga e Luis Fernando Veríssimo são considerados alguns dos principais cronistas brasileiros.

            Dos citados, ainda não li Rubem Braga (ainda). “Sexo na Cabeça” e “Comédias da Vida Privada” são excelentes livros de Luis Fernando Veríssimo. “A Mulher do Vizinho” contém belos escritos de Fernando Sabino.

            Já ia me esquecendo, tem um tal de David Maxsuel Lima, metido a cronista, suas crônicas estão aqui no blog, por caridade, leia, pelo menos uma!

Por hoje é só...

Até a próxima!

 

A “próxima” é a crônica “Lições para pular o muro”.