Charme Feminino

03/01/2012 16:36

CHARME FEMININO

 

 

Cena 1

 

            E eu corro e faço de tudo um pouco para alcançar àquela coisa que me alimentou de esperança e cujo nome eu não me lembro. Sei que ela tem nome bonito e isso basta.

 

Cena 2

 

            E ela ajeita o cabelo duas, três, quatro vezes, ali no terminal rodoviário. Entra no banheiro e sai de lá toda maquiada. O batom é vermelho, os olhos são verdes. Parece nervosa; tem medo e não suporta viajar de ônibus.

 

Cena 3

 

            Pega a sua maleta rosa e se aproxima do moço com cara de bobo; ela pede para ele vigiar um instante só, a maleta. O moço passa às vistas pelos seus seios e balança a cabeça afirmativamente.

           

Cena 4

 

            O salto alto é a sua marca registrada, assim como o batom vermelho. Suas pernas torneadas atraem olhares famintos. Ela corre, por assim dizer, até a lanchonete do terminal. Chega e se encosta ao balcão; todos reparam. O atendente é um jovem que aparenta dezesseis anos; não consegue falar, depois, gagueja.

 

 

Cena 5

 

            Ela sabe o quanto é bela. Deixa que o jovem a admire mais um pouco, logo pede balas, refrigerante. Quanto sai da lanchonete leva consigo olhares admirados; lembra-se de alguma coisa, volta, faz o pedido. A hora se aproxima, ela come chocolate e bebe coca-cola.

           

Cena 6

 

            O bobo da mala não cuidou dos pertences da moça. Sem problemas; nada foi roubado ou danificado. Ela masca chiclete e põe a mão direita na cintura fina. Charme feminino.

 

 

Cena 7

 

            É só entrar no ônibus. Nenhum cavalheiro se oferece para carregar sua bagagem. Ela perdoa nossa raça de homens primatas – sempre perdoou. Já está a ajustar sua poltrona; joga a goma de mascar pela janela.

 

Cena 8

 

            O ônibus partiu, ela partiu. Meu Deus! Ela se foi. Mas eu continuo fazendo te tudo um pouco para alcançar àquela coisa que me alimentou de esperança.