Charme Feminino
CHARME FEMININO
Cena 1
E eu corro e faço de tudo um pouco para alcançar àquela coisa que me alimentou de esperança e cujo nome eu não me lembro. Sei que ela tem nome bonito e isso basta.
Cena 2
E ela ajeita o cabelo duas, três, quatro vezes, ali no terminal rodoviário. Entra no banheiro e sai de lá toda maquiada. O batom é vermelho, os olhos são verdes. Parece nervosa; tem medo e não suporta viajar de ônibus.
Cena 3
Pega a sua maleta rosa e se aproxima do moço com cara de bobo; ela pede para ele vigiar um instante só, a maleta. O moço passa às vistas pelos seus seios e balança a cabeça afirmativamente.
Cena 4
O salto alto é a sua marca registrada, assim como o batom vermelho. Suas pernas torneadas atraem olhares famintos. Ela corre, por assim dizer, até a lanchonete do terminal. Chega e se encosta ao balcão; todos reparam. O atendente é um jovem que aparenta dezesseis anos; não consegue falar, depois, gagueja.
Cena 5
Ela sabe o quanto é bela. Deixa que o jovem a admire mais um pouco, logo pede balas, refrigerante. Quanto sai da lanchonete leva consigo olhares admirados; lembra-se de alguma coisa, volta, faz o pedido. A hora se aproxima, ela come chocolate e bebe coca-cola.
Cena 6
O bobo da mala não cuidou dos pertences da moça. Sem problemas; nada foi roubado ou danificado. Ela masca chiclete e põe a mão direita na cintura fina. Charme feminino.
Cena 7
É só entrar no ônibus. Nenhum cavalheiro se oferece para carregar sua bagagem. Ela perdoa nossa raça de homens primatas – sempre perdoou. Já está a ajustar sua poltrona; joga a goma de mascar pela janela.
Cena 8
O ônibus partiu, ela partiu. Meu Deus! Ela se foi. Mas eu continuo fazendo te tudo um pouco para alcançar àquela coisa que me alimentou de esperança.