A Loirinha da Pizza
Ele chegou à sua casa pensando na loirinha que lhe entregara a pizza; pegou a chave no lugar de sempre, embaixo do tapete, e abriu a porta. A casa era pequena: dois quartos, sala, cozinha, banheiro, e só. A menina mantinha sua cabeça ocupada.
Acomodou-se no sofá e ligou a televisão: o narigudo fazia propaganda de motos. Dirigiu-se à cozinha com a pizza, colocou-a sobre a mesa; abriu a geladeira, pegou uma garrafa com água e levou à boca. Fechou a geladeira.
"Ah... , que coxas!" , pensava ele, colocando seu “almoço” no forno; voltou para frente da TV. A propaganda era outra: Gisele Bündchen ensinando como dar notícias ruins aos maridos; a top model despertou seus instintos selvagens: imaginou coisas assim, assim, com a loirinha da pizza. “Eta coisinha linda, meu Deus! Branquinha que só vendo”.
Ele forçou tanto seu imaginário que acabou dormindo. Dormiu e sonhou. Adivinha com quem? Não. Não foi com a loirinha; foi com uma dentista parecida com ela –o que não é a mesma coisa.
Sonhara que a dentista lhe examinava - seus dentes, claro!- e que, quando esta deu mole, a agarrou. Quando estavam quase “lá” deu curto circuito em um dos aparelhos do consultório odontológico.
Acordou todo babado e confuso; não desligara o forno; quando abriu-o levou uma baforada de fumaça. Era uma vez uma pizza. “Eta rostinho para dar prejuízo, sô!”.
O aperitivo foi para o lixo. A loirinha virara verdadeira obsessão para o jovem que decidiu comprar outra pizza só para vê-la. Chegando à escola, local onde a massa era vendida, ficou procurando a dentista, quer dizer, a loirinha. Perguntou para um e para outro, mas não obteve êxito. Chegou perto de um garoto metido à cronista e perguntou: você não viu uma loira assim, assim; sorriso tal, tal; blusinha Green, Green? Ao que o garoto responde: uma loira assim, assim? Shortinho por aqui, aqui? Coxas deste tamanho? Com um bumbum daqueles?
– É, é, é essa mesmo! Onde ela está? –pergunta o jovem com cara de tarado.
− Foi embora. –diz o moleque metido a cronista.
− Como assim, embora?
− Tipo: vazou; sabe qual é?
− Sei, sei. Conhece-a?
− De vista. Só.
− Diz ai, o que sabe.
O quase cronista mirou o sujeito, pensou um pouco, depois soltou:
− Maria Josefa; reprovou três anos; oitava série; problemas mentais leves; grávida –grávida!- e quase casada.
O cara ficou perplexo, coçou a cabeça e foi embora meio desanimado –sem a pizza. O rapazinho ficou conversando consigo mesmo:
− Grande personagem esse que inventei! ; sujeitinho besta: vá bicar noutra freguesia; a loirinha não é pro bico de qualquer um não.
Ele também havia queimado uma pizza.