A Arte de Pular o Muro
A Arte de Pular o Muro
(Para o bem geral da nação estudantil, posto novamente o artigo)
Os colegas devem ter notado que pulo o muro da escola com certa freqüência. Quero ressaltar que não é de minha intenção promover o extermínio das aulas, mato-as por necessidade, ainda assim, só as ociosas. Tanto é que, com muito esforço, não ausento-me às quartas e sextas.
O intervalo entre o terceiro e o quarto tempo é o que basta para atiçar a vontade de exterminar as duas últimas aulas, soma-se a isso o tempo que os professores levam até chegar na sala doze, a nossa. Não é gabando-me, mas só vontade não basta, é preciso coragem para fugir da sala de aula que se torna uma cela ociosa, especialmente às segundas e quintas, após às nove e quarenta e cinco.
Não é premeditada a ação de matar aula, muito pelo contrário, é impulso, semelhante ao que me leva a ler seis livros mensais, tanto que, antes de cometer tal crime, leio algumas páginas. Não é doença, longe disso, é sinal de saúde, porque convenhamos, é uma atividade física e tanto a arte de pular o muro, poderia até indicar esse exercício se fosse médico.
Tenho notado nas últimas semanas certo espanto do pessoal ao ver-me transpor com tamanha facilidade o obstáculo de concreto, mas maior fascínio (imagino) percebo quando deixo tranquilamente a sala de aula rumo a aventura (se notarem, a última coisa que coloco dentro da mochila é o livro, o que faz-me acreditar que a pratica da leitura está intimamente ligada a ação de matar aula). Penso agora qual seria a reação de vocês: nenhuma? Surpresa? Vontade de seguir o mesmo caminho? Acham que sou louco? Sairei perdendo? Pensam que faço isso para “aparecer”? Fodam-se. Matar aula é adrenalina pura! Vocês não sabem o que estão perdendo!
E se eu reprovar? Já pensei nisso. Até gostaria de reprovar para fazer algumas coisas que ainda não fiz em minha “segunda casa” ( levar canivete para a sala de aula, xingar a professora, sexo no banheiro feminino, envolver-me numa bruta briga, assinar o livro que não sei se é preto ou azul, entre outras coisas), mas seria rebeldia demais, não sou um adolescente (?) tão rebelde, não para tanto!
O objetivo dessa crônica é expor alguns pontos importantes na arte (e na hora) de pular o muro da escola, então vamos a eles.
Infelizmente não existe fórmula mágica para fugir da escola, é questão de jeito, os avantajados corporalmente têm desvantagens visíveis. Avaliem todos os tópicos antes de pular um muro, matar aula é crime!
Dos Motivos e Desculpas:
Caso você seja pego com a “boca na botija”, será preciso dar uma desculpa para a fuga, veja algumas delas:
· Não entendo Gramática;
· O professor (a) não queria dar aula;
· Para que serve Artes?
· Eram aulas ociosas;
· Tinha palestra (apresentação, momento cívico, reunião);
· O professor faltou;
· Não tinha o que fazer;
· Foi só uma vez;
· Não matei aula sozinho (a);
(ETC.)
Dos cuidados e dicas
· Leve sempre seu material;
· Certifique-se de que o professor não te viu nem está na sala de aula;
· Certifique-se de que não têm trabalhos e provas;
· Certifique-se de que não está sendo vigiado;
· Seja rápido;
· Seja corajoso;
· Se o professor saiu da sala de aula, aguarde 30 segundos, se ele não voltar, o território está livre;
· Mate as duas últimas aulas, de preferência;
(ETC.)
Das precauções
· Nunca olhe para trás quando for pular o muro, você poderá ter quatro surpresas: o guardinha; o professor (a); a coordenadora; o diretor (popular “Dire”);
· Certifique-se de que não esqueceu nada na sala de aula, pois pode não dar tempo de voltar para pegar;
· Não vá para sua casa (ou vá);
· Não mate aula se você é CDF, o professor notará sua falta, e você ficará com remorsos;
· Se achas que a nota seis é ruim, não mate aula.
(ETC.)
Das vantagens e sintomas
· Ótimo exercício físico;
· Evita perda de tempo e dores de cabeça;
· Sensação de prazer com liberação da adrenalina;
· Sensação de superioridade instantânea;
· É como matar alguém (somente na teoria);
· É como enganar alguém.
(ETC.)
Das desvantagens
· Pode tornar-se um vício;
· Para os C(s)DF pode provocar depressão;
· Os músculos dos membros inferiores ficam frágeis ao impacto com o chão;
· Em algumas partes do muro, em vista das péssimas condições das pedras, você pode ferir-se;
· Pular o muro de saia ou calça justa nem pensar!
· Você poderá reprovar.
(ETC.)
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(Duvido que alguém pense em tudo isso antes de matar aula)
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Analise bem as questões antes de tomar a decisão. Em hipótese alguma escreva uma crônica (?) relatando que mata aula, não se confessa um crime!
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P. S.: professores e alunos da unidade escolar, a freqüência com que tenho matado aula é justificável. Tenho matado aula em nome da Ciência (com C maiúsculo). Não acreditam? Pois podem acreditar. Matei aula somente para provar a todos que pular muro* é uma arte (principalmente quando se evita aulas de “Artes”); que pular muro faz bem a saúde; que pular muro têm suas vantagens e desvantagens; que não basta ter vontade, é preciso coragem para matar aula; e que pular o muro não é fácil.
A regularidade com que tenho matado aula é em nome do rigor cientifico não basta a teoria, só se aprende na prática. No entanto, quero ressaltar que, em vista da crise financeira mundial, diminuirei o ritmo, estou em tratamento (doença: Carattius de pallius Pollitique ou CPP).
Assim termino: no próximo ano letivo (CPP) garanto a todos que não matarei aula. Na expressão da verdade, firmo este acordo (CPP).
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Fim!