A Velha Educação

21/11/2011 15:24

 

A VELHA EDUCAÇÃO

 

 

            Nos bastidores:

 

            − Conheces a velha Educação?

            − Conheço.

            − Andam dizendo que ela morreu.

            − Coitada!

            − Coitada, nada. Já foi tarde.

            − E quem vai tomar o lugar  dela agora?

            − Isto eu não sei.

 

            Na ida:

 

            − Não dá pra fazer mais nada.

            − Como assim?

            − Não tem mais jeito, essa velha já está morta.

            − Tente reanimá-la.

            − Já tentei, excelência. Ela morreu, conforme-se.

            − E o que digo à sociedade?

            − Diga a verdade: a culpa é nossa.

            − Vire essa boca pra lá! Era só o que me faltava.

            − Mas se a culpa não é nossa, a culpa é de quem?

            − Não sei, mas uma coisa é certa: você procurará um culpado por essa desgraça.

            − Por onde começo?

            − Pela gestão anterior, claro!

            − Está bem, tchau.

            − Espere. Não diga a ninguém que a velha está morta. Quando voltar, traga o que lhe pedi.

            − Sim, chefe. Estou indo.

            − Espere que  ainda não terminei. Espalhe por ai que a velha está evoluindo.

            − Como assim?

            − Diga ao povo que a velha está cada vez melhor. E não esqueça de colocar a culpa na gestão anterior. Diga que estamos trabalhando muito, fazendo o possível para que ela se recupere. E, o mais importante, não deixe ninguém saber que essa desgraça morreu.

            − Pode deixar comigo. Mais alguma coisa?

            − Só isso. Agora vá, peste.

 

            Nos arredores:

 

            − A velha Educação, a cada dia que passa, está melhorando, você não acha?

            − Não só acho como tenho certeza.

            − Agora sim, a coisa vai pra frente.

            − Que assim seja!

            − E será –se Deus quiser.

            − Mas andam dizendo que ela morreu.

            − É intriga da oposição; desses vadios que não tem nada pra fazer.

            − Há de ser isso mesmo.

            − É claro que é. E o que mais podia ser? Hein? Não esquente a cabeça homem de Deus! A velha, daqui uns dias, sairá correndo feito louca.

            − Tá bom. Eu deveria saber que as coisas tão melhorando. Mas o senhor sabe como é o povo: fala tanta besteira que a gente acaba acreditando.

            − Sei como é. Mas fique sossegado.

 

            Na volta:

 

            − Cheguei, chefe.

            − Como se eu não estivesse vendo.

            − Já espalhei a mentira. Agora todo o mundo tá achando que a culpa é da gestão anterior. E tem mais: tratei de convencer eles de que era mentira que a velha tinha morrido. Agora eles estão pensando que ela tá cada vez melhor.

            − Era tudo o que eu queria ouvir.

            − Mas ela tá morta mesmo, hein? Essa podridão tá cheirando, senti lá de fora.

            − Fale baixo para que ninguém ouça.

            − Sim, desculpe-me.

            − Trouxe o que lhe pedi.

            − O caixão?

            − Não, idiota! A maquiagem.

            − Ah... , sim, aqui está.

            − Tire isto de perto de mim. Não quero que ninguém saiba que estive envolvido nisso. Trate de maquiá-la.

            − É pra já.

           

            No fim:

 

            − Acabei, excelência.

            − Maquiou tudo?

            − Sim, olhe. Nem parece que ela está morta.

            − Pior que não. Se eu fosse néscio, nem teria percebido.

            − Isso é uma indireta, não é?

            − Imagine! Mas que o trabalho ficou bom, isso sim.

            − Mas com o tempo, será que ela não apodrece?

            − Quando isso acontecer, não estarei mais aqui.

            − Só o senhor pra rir duma coisa dessas.

            − E você acha que o eleitorado não faz a mesma coisa?

            − Isso é verdade.

            − Esta maquiagem é das boas, não é?

            − Da melhor qualidade. Posso lhe contar uma piada?

             − Numa hora dessas. Está bem, vai, conte. Mas só se for boa.

            − E se, ao invés de dizer que a velha está evoluindo, dissermos que ela está tendo convulsões?

            − Depois sou eu o sarcástico aqui, né?

             − Posso encomendar o caixão?

            − Por mim, tanto faz. Só peça que entreguem depois que minha gestão acabar.

            − Deixe comigo.