A puta pátria que nos pariu: um retrato da ignorância

12/03/2012 11:17

A puta pátria que nos pariu: um retrato da ignorância

(Já publicado anteriormente)

 

Somos o futuro do país. Seguimos a moda, mesmo que esta nos ridicularize. Possuímos celulares de última geração, sim, falsificados; duram tanto quanto a revolta dos brasileiros: quase nada. Somos telespectadores, perdemos grande parte do nosso tempo assistindo programas imbecis, acreditando nas lorotas da TV Globo. Fizeram-nos acreditar que somos a geração conectada, passamos a ter acesso às notícias em tempo real, ou seja, de forma rápida e fácil ficamos sabendo das fofocas envolvendo as celebridades e como está “nosso” time no campeonato, aliás, como legítimos alienados, vegetamos às quartas à noite e aos domingos à tarde, na frente da TV.

Somos a geração Zero-à-esquerda. Somos um bando de idiotas ufanistas torcendo pela seleção. Somos alienados querendo provar –ou acreditar – que temos a capacidade de pensar e transmitir opiniões sensatas. Emitimos opiniões que nunca foram nossas: somos os donos do mundo tirando ouro do nariz. Somos o futuro sem futuro.

Somos o futuro do país. Temos direito ao voto mesmo que sejamos analfabetos e não entendamos nada sobre política, aliás, odiamos política: “Abaixo a ditadura”, gritamos, e ao mesmo tempo seguramos as nossas calças.

A toda hora fazemos tentativas: queremos curtir nossa desgraça. Ficamos assistindo às novelas, entre risos e lágrimas: quanta estupidez! Mas somos jovens, dizemos, como se esse fosse um argumento convincente.

Enchemos a “cara” para provar a nós mesmos que não temos nada a ver com “porcaria” nenhuma. Não mais nos perguntamos: “Que país é este?”, como o fazia Renato Russo. Perdemos a vontade de dizer “não”. Coloque qualquer coisa inútil a nossa frente: nós pegamos, nós compramos, nós adoramos, nós indicamos, nós dizemos: sim, claro! Somos produtos também, mas quem liga? Qual o seu lote? Qual a sua data de fabricação? Quando se tornarás imprestável? E, o mais importante, quanto custas? Procure saber, antes que te joguem no lixo.

Somos uma cambada de analfabetos funcionais, colocamos o fone de ouvido e curtimos músicas dedicadas as putas da nossa nação, “canções” que servem tão somente para exibição de bundas e de incentivo à prostituição. Estamos razoavelmente protegidos contra a AIDS e entupidos de ignorância.

Somos a geração Bunda-Mole. Só levantamos nossos traseiros do lugar para coçar nosso umbigo, quando o fazemos, ou para dizer: “Olha. Como sou feliz!”.

Lemos, sim, como não? Lemos uma espécie de manual para adolescentes, também conhecido como “Saga Crepúsculo”, um livreco para garotas virgens, encalhadas e similares e que ainda sonham com o príncipe –ou bandido – encantado.

Somos tudo. Somos nada. Somos muito menos que isso. Comunicamos-nos através de gírias, pois não dominamos nossa própria língua. Somos pobres idiomaticamente.

Sentamos na frente da TV todas as tardes, de segunda a sexta, e assistimos uma novelinha de otários chamada “Malhação”, que nada mais é que um retrato dos jovens da classe média –um bando de babacas que não cansam de fazer nada; é o retrato da elite, mesmo assim, nós, os “pobretões”, arrotamos assistindo-a –enfim, apreciamos o produto da massa ignorante. Somos o futuro, a grande merda, mas o nosso futuro foi assassinado durante uma tentativa de fuga.

E não adianta dizer nada. Continuaremos desempenhando nosso papel na sociedade: mas qual é mesmo o nosso papel na sociedade?

Somos. Mas o que somos? Devemos comemorar nossa estupidez? Comemoremos, pois então!

Fumamos, bebemos e lambemos nosso próprio rabo.

Há solução?

Somos uma massa de manobra sem opinião. Somos todos filhos da puta: da puta pátria que nos pariu.

Agora digam “Xis” e guardem na memória o retrato da nossa ignorância. Não se preocupem, a foto não será revelada. Há muito tempo queimamos o filme.