Santa Mortífera

22/03/2012 13:24

Santa Mortífera

 

Chegou a hora de beber o veneno. Mas quem disse que a Morte compareceu à cerimônia? Deixou que o menino se lascasse; queria morrer que morresse, mas de outro jeito. Morte é sexta-feira ou sala de jantar? Então, como eu ia dizendo, a morte não foi assistir ao espetáculo, contudo mandou um representante. Santo representante,(quase) livrou a garganta do liquido fatal! Menino besta, também, comprou veneno baratinho, num camelô do lado paraguaio da fronteira, só daria nisso mesmo: sequela. Sequela e das bravas! O menino burro, isso já comentei, ficou gemendo, babando no tapete da sala. Desmaiou assim, meio que morto, não gritou nem bocejou: só fez pose pra entrar no inferno. E veio, como em todo filme de ação ridiculamente dirigido, um vizinho beiçudo, futricar no que não está nos limites de sua competência, ou incompetência, conforme o caso. Encontrou o menino lambendo o piso molhado, chamou a ambulância. Chegou algo parecido, um lixo ambulante cujas portas estavam entreabertas, só fecharam após forçoso trabalho. Levou o menino, o idiota, para o hospital. E lá ficou os familiares sabendo que o moçoilo ficaria com a capacidade mental reduzida – nenhuma novidade. A deficiência não chegou a ser notada, pois a santa mortífera, chamada saúde pública, tratou de encaminhar o moleque ao cemitério alegando insuficiência cardíaca. E acabou o conto, sem graça.

 

Maxsuel M. Lênihon