Eu não acho nada certo (como se fosse)

23/01/2012 14:41

Eu não acho nada certo

(Autor David Maxsuel Lima)

 

Não. Eu não acho certo você vir aqui às três da madrugada junto com seu amigo afeminado que já deve estar com a rosca mais que queimada. Eu não acho certo você pular o muro do meu quintal, com cerca elétrica e tudo, e depois arrombar a porta e ir entrando e quebrando tudo, meu computador, e ir mandando todo mundo calar a boca só porque você tem aí uma arma com três ou quatro balas. Eu não acho certo você me deixar aqui com esse seu amigo molenga pra ir defecar no meu banheiro. E também não acho certo essa bicha mijar no tapete que eu nem terminei de pagar ainda e que é caro porque comprei numa de minhas viagens ao Caribe. Não acho certo esse seu jeito de ladrão bacana apontando a arma pra cabeça da minha mulher e da minha filha que só tem cinco anos. A empregada você só manda ficar quieta porque sabe que se matá-la será um alivio pra mim, pois essa endiabrada deu pra me ameaçar depois que eu a apertei no mês passado no corredor do banheiro e que deve estar fedendo agora por causa dos seus alívios; o corredor, é claro. Ladrãozinho cagão. Não é certo você bater com isso na minha cabeça, olhe aí o sangue correndo pelo meu rosto; eu queria morrer com a cara sem hematomas, cacete. Não é nada certo esse seu namoradinho viado bater na cara da minha mulher. Ela não tem culpa de gostar tanto desse tapete importado que agora fede à urina. Eu não acho nada certo você matar assim, covardemente, meu cachorro; ele nasceu pra latir e só obedecia aos seus instintos. Você está nos mantendo presos aqui. É mais um crime nas suas costas, babaca. Eu não acho certo você estuprar minha esposa na minha frente. Viu só, seu puto, a menina está chorando. Não! Eu não acho certo você matar minha mulher desse jeito: com um tiro no meio da testa. Pegue o que veio pegar e vá embora, merda. Eu não acho certo esse seu colega ir à cozinha. Não há nada lá. Pra quê isso? Pelo amor de Deus, eu não acho certo você judiar dessa maneira da menina. OS lábios não! Dói para um pai ver a filha pequenininha estrebuchando no tapete da sala. Vocês hão de me pagar, seus bostas. Para quê tamanha crueldade? A polícia está chegando e vocês vão se ferrar. Agora sim, seus desgraçados. Só têm duas balas na agulha, se vocês vão me matar mesmo, quero uma cravada no meu cérebro e outra no meu peito. Esse é meu último pedido e vocês têm que respeitar. E, cacete, não demorem, vão tomar no - dois tiros.